Adeus, chapada: Por que decidimos deixar nosso refúgio e voltar para estrada?

Você já se pegou em uma ressaca literária? A ressaca literária é simplesmente um cansaço de ler. Acontece naquele momento em que você fecha um livro incrível e se vê incapaz de se desapegar dos seus personagens e de sua história envolvente. Ou talvez, após devorar tantas páginas, você se encontre simplesmente cansado e deseja dar uma pausa antes de iniciar uma nova leitura. 

Compreendeu o conceito? Que tal nos aventurarmos na criação de um novo termo? Apresento a “Ressaca Nômade”. Eu e Felipe mergulhamos de cabeça nessa fase. Por sorte, já estamos recuperados e prontos para pegar a estrada novamente. Mas, é claro, não poderíamos retomar nossa jornada sem antes compartilhar os aprendizados dessa ressaca kkkk.

Ressaca Nômade

Nossa ressaca nômade parece com a da literária. Em uma de nossas viagens, ficamos apaixonados por uma região e, mais especificamente, por uma chácara/ sítio. Isso nos rendeu uma estadia de 10 meses. Nesse intervalo, fizemos uma pausa dentro da própria viagem, kkk (afinal, para quem não sabe, não temos um lar fixo; vendemos tudo para viver como nômades digitais).

Esse período foi crucial para refletirmos sobre nosso estilo de vida. Aprendemos mais sobre quem somos, o que valorizamos e as experiências que buscamos na estrada. Curiosamente, nunca experimentei a ressaca de álcool e imagino que não seja nada agradável. A ressaca literária tem seus percalços, mas devo confessar: nossa ressaca nômade, apesar de nos ter parado temporariamente, revelou-se uma experiência maravilhosa, rica em descobertas e aprendizados.

Partir doi?

Hoje, na véspera de nossa partida para o próximo destino, tento ensaiar uma despedida e, quem sabe, concluir este ciclo por meio das palavras. Mas se você já teve que se despedir muitas vezes, sabe que não é fácil. Para mim, particularmente, é sempre um desafio.

Mas sei que, ao procrastinar esse adeus, estou, de forma consciente, tentando adiar o fechamento deste ciclo. Portanto, para finalmente deixar ir, vou compartilhar aqui todas as riquezas que eu e o Felipe absorvemos ao longo desses 10 meses vivendo em uma chácara, na tão apaixonante e maravilhosa (sem exagero) Chapada Diamantina-BA: 

O que aprendemos?

  • Eu, Dulce, percebi que minha sanidade e motivação dependem fortemente de uma rotina bem estruturada. Mesmo em constante movimento, organizo rigorosamente meus horários para trabalho, estudos, alimentação saudável e exercícios físicos. Sem essa estrutura, me sinto perdida, confusa e desmotivada, o que me faz literalmente surtar kkkk.
  • Tivemos a experiência de cultivar nossa própria horta, o que nos ensinou não apenas sobre o valor nutritivo e o sabor superior dos alimentos orgânicos, mas também sobre a importância da paciência. Na era do imediatismo, onde um pedido por aplicativo resolve nossas necessidades imediatas, observar um alface crescendo por 8 a 18 semanas foi uma lição de humildade sobre o tempo necessário para as coisas se concretizarem naturalmente.
  • Aqui na Chapada, especificamente no Vale do Capão e em Palmeiras, um alimento local nos cativou: o mel com pimenta. Inicialmente usado em pizzas, essa combinação agora faz parte de muitos pratos que fazemos, como cuscuz e panquecas. Adotamos essa delícia em nossa culinária diária. (pode parecer estranho, mas gente, é bom mesmo.)
  • Inspirados pela nossa conexão mais profunda com a terra e o que ela produz, optamos por nos tornar vegetarianos. Essa mudança não apenas beneficia nossa saúde, mas também se alinha com nosso respeito crescente pelo meio ambiente. 
  • A prática regular de esportes tornou-se parte integral de nossa vida, praticamos muito yoga, mountain bike, trekking, escalaminhada e musculação. Cada atividade não só nos manteve fisicamente ativos, mas também profundamente conectados com o ambiente natural da Chapada.
  • Nossa estadia também foi um período de intensa introspecção espiritual. Sem os tabus ou preconceitos habituais, exploramos profundamente nossas crenças, levando a uma reavaliação significativa de nossa fé. Apesar de uma crise existencial inicial, esse processo nos libertou para respeitar todas as religiões, escolhendo não nos unir a nenhuma.
  • Felipe enfrentou e superou seu medo de águas geladas, uma realidade inevitável na Chapada Diamantina. Essa conquista não apenas o libertou de um temor, mas também permitiu que entrasse feliz em todas as cachoeiras e poços locais. 
  • Freud, nosso cachorro, teve suas próprias aventuras e lições kkkk: aprendeu que sapos não são para morder e que os gatos, apesar de não serem seus favoritos, podem ser tolerados, especialmente Carmen , com quem ele estabeleceu uma trégua.
  • A experiência na chácara nos deu claras referências sobre como queremos estruturar nossa futura residência. 
  • Aprendemos o valor imensurável da chuva para o meio ambiente e ganhamos uma compreensão mais profunda dos ciclos naturais. Além disso, percebemos os benefícios de usar bicicletas, tanto para a saúde pessoal quanto para a preservação ambiental.
  • Como empreendedores e donos de uma agência de marketing, frequentemente, exploramos novas ideias de negócios, mas nossa experiência aqui solidificou nosso compromisso de aprimorar e expandir nossa agência, reconhecendo a necessidade de atualizações contínuas para manter nossa excelência. 
  • A beleza da Chapada Diamantina é inegável, mas é fundamental não subestimar a necessidade de uma boa mobilidade. Para acessar os recantos mais distantes, é necessário contar com um carro ou moto. As distâncias entre os pontos de interesse podem ser vastas, e a liberdade de explorar a vontade é crucial para uma experiência completa.

Mas, afinal de contas, por que decidimos partir, já que estávamos aprendendo tanto?

Bem, sentimos que era hora de seguir em frente. A Chácara onde morávamos fica em Palmeiras, uma cidade pequena e tipicamente interiorana na Chapada Diamantina. 

Sendo uma cidade já tranquila e estando nós ainda mais isolados em uma chácara afastada, encontramos a receita perfeita para o isolamento. Esse isolamento, embora tenha sido exatamente o que nos permitiu aprender tanto e olhar para dentro de forma tão profunda, também nos fez sentir falta do movimento e da energia da estrada após tanto tempo reclusos. 

No fim, percebemos que já havíamos absorvido tudo o que Palmeiras  poderia nos ensinar, e chegou o momento de buscar novos horizontes. Doi partir? Sim, dói bastante! Está sendo muito difícil me despedir da chácara, pois me apeguei muito à casa. Mas é como aquela velha sabedoria diz: para experimentar novos chás, precisamos esvaziar a chaleira.

Enquanto nos despedimos da chácara em Palmeiras, refletimos sobre a impermanência e o constante fluxo da vida. Cada lugar em que paramos, cada solo que pisamos, nos ensina algo vital, mas também nos prepara para o próximo passo da jornada. A vida, em sua infinita sabedoria, é uma série de chegadas e partidas; cada despedida é apenas a introdução de um novo encontro. E, no fundo, sabemos que as verdadeiras viagens nunca terminam, elas apenas se transformam em novas formas de ver o mundo. 

Portanto, ao esvaziar nossa chaleira, não estamos apenas deixando para trás o que foi, mas abrindo espaço para o novo que está por vir. A estrada nos chama, e como amantes do desconhecido, nós a seguimos, carregando as lições que aprendemos, e claro, prontos para sermos transformados novamente.

Olá, meu nome é Dulce

Formada em marketing, uma eterna apaixonada por escrita e aventura, atualmente faço da estrada a minha casa.  

Dulce Lara R. Campos

Uma resposta

  1. Dulce e Filipe foi uma alegria encontrar vocês aqui em Palmeiras, grata pela troca e momentos. Desejamos sorte e bons caminhos, beijos Priscilla e família.

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