Por Que Fugimos de Brasília? A Verdade Por Trás da Nossa Fuga!

Fugimos, não há outra palavra que descreva tão bem. Fugimos sem olhar para trás, exatamente como a palavra “fugir” sugere: alguém correndo, despenteado, abruptamente indo embora de forma estabanada e absurda.

E posso afirmar, fugir foi a melhor coisa que fizemos.

Mas você, caro leitor, pode estar se perguntando: fugiram de Brasília? Por que fugiram? Não, meu caro, não fugimos de Brasília. Fugimos do caos que a cidade nos faz submergir, do barulho, da poluição constante, das luzes que nos impedem de ver o céu e, sobretudo, daquele eu obscuro que a cidade faz emergir. Aquele eu que não deixa espaço para mim.

Até aqui, tudo parece poético e fora de ordem, sem muito sentido, mas essa é a verdade. A cidade faz com que tudo o que há de belo em mim caia em ruínas. Sinto-me afogada, imersa e submersa em uma água que me leva apenas para baixo, como se um tijolo estivesse amarrado aos meus pés. Por mais que eu tentasse, era simplesmente em vão, pois eu continuaria caindo. Criolo expressou bem em sua música “Não Existe Amor em SP” nos seguintes versos:

Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra
Afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu

O que essa música quer dizer?

Quando Criolo diz “devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel”, ele está pedindo de volta sua vida, que sente ter sido roubada pela cidade. Ele praticamente amaldiçoa a cidade, desejando que ela morra afogada em seu próprio mar de fel, simbolizando a amargura e o ressentimento que ela carrega.

A propósito, você sabe o que é fel?

Fel é a expressão de amargor que deriva de um sabor amargo, azedo; azedume. Comportamento, sentimento ou estado de espírito que denota amargura, ressentimento. Qualquer substância de sabor amargo.

Desejar que a cidade morra afogada em fel pode parecer pesado, né? Mas a poesia não se limita ao que você pensa ou defende. Na maioria das vezes, ela é apenas uma forma de expressar o que está engasgado na garganta. Fala mais sobre o autor do que sobre o ouvinte. A verdade é que, se você ama a cidade, não se preocupe; essa raiva não é sobre você!

Agora, depois de esclarecer os pontos, vamos aos detalhes. O que exatamente não estava funcionando? Prepare seu café, chá, água, pipoca, ou qualquer coisa que você goste de beber ou comer, e vem entender o que aconteceu.

Queriamos passar pelo menos 6 meses em Brasília 

Firmamos um contrato de locação de um ano, com a possibilidade de rescisão mediante aviso prévio de 30 dias. Planejávamos ficar pelo menos seis meses em Brasília, mas acabamos saindo após apenas dois meses e meio. Em nossas viagens pelo Brasil, sempre preferimos lugares turísticos menores e, apesar das mudanças típicas de um estilo de vida nômade digital, tinhamos hábitos saudáveis: dormíamos até as 22h, praticávamos exercícios regulares e tínhamos uma alimentação equilibrada.

Contudo, durante os dois meses e meio em Brasília, enfrentamos dificuldades inesperadas. Por mais que tentássemos, não conseguíamos dormir antes da meia-noite. Cozinhei menos de sete vezes durante todo esse período, uma queda drástica em minha rotina usual. Por falta de tempo, optávamos por marmitas e, à noite, recorríamos ao fast food pela facilidade. O sedentarismo se instalou, e ganhei mais de cinco quilos. Embora o volume de trabalho tenha aumentado, não foi um aumento tão significativo. No entanto, a ansiedade prejudicou nossa produtividade: tarefas que normalmente completávamos em seis ou oito horas passaram a demandar entre 12 e 14 horas.

Felipe liderando a expedição rumo à tranquilidade.

A tranquilidade da natureza  inspira produtividade!

Mas por que ficamos ansiosos?

Mas não pense que estamos apenas reclamando; trouxemos dados e estudos para embasar este texto. Fiquei muito curiosa para entender o que estava acontecendo comigo e com Felipe, já que fazia mais de um ano que não voltávamos a Brasília. Ao retornar, nos deparamos com uma ansiedade quase insuportável, quase à beira de um surto. Por isso, mergulhei em diversos artigos para compreender a situação.

Se o volume de trabalho não aumentou, por que nosso horário de trabalho se estendeu tanto? Por que dormíamos tarde e não nos alimentávamos direito? Seria falta de disciplina? Falta de foco, força e fé? Talvez!!! Kkkk

Mas o que realmente me intrigava era que isso só estava acontecendo ali. Não éramos assim enquanto estávamos em cidades menores, no interior ou em chacaras.

Por que não conseguiamos dormir cedo como de costume

(possíveis hipóteses)?

Ah, a saga do sono perdido na cidade! Segundo Fernando Pimentel-Souza, um dos vilões dessa história é o barulho incessante dos carros, que parece que estão sempre competindo numa corrida invisível. O estudo que ele conduziu sugere que não é só uma questão de fechar a janela para fugir do ruído. Ele fala sobre a necessidade de medidas sérias, normas internacionais para abaixar o barulho dos carros novos em até 12 dB(A) e uma fiscalização mais eficaz dos escapamentos dos veículos usados.

E se você pensa que dormir é só fechar os olhos e pronto, Fernando nos lembra que uma boa noite de descanso é essencial para manter nossa máquina cerebral em dia e nossa criatividade ativa. Afinal, como já dizia Schopenhauer, esse barulho todo é a verdadeira “tortura do homem de pensamento”. Quem diria que o segredo para a criatividade poderia ser simplesmente um lugar silencioso para dormir?

Ficou abalado com essa notícia? Eu também! Mas não para por aí.

Por que não nos alimentávamos bem (possíveis hipóteses)?

Uma das grandes questões sobre a dificuldade em manter uma alimentação saudável nas cidades é a sedução irresistível das comidas prontas e do fast food. A vida acelerada das metrópoles nos empurra para escolhas rápidas e práticas, mas que muitas vezes são verdadeiras armadilhas para nossa saúde: ricas em gorduras, açúcares e sal, e pobres em nutrientes.

Imagina só, a gente corre de um lado para o outro e, quando vê, está na fila de um drive-thru, pedindo algo rápido porque simplesmente não dá tempo de cozinhar em casa. E não é só falta de tempo, mas também o acesso limitado a opções saudáveis. Aquela feira com frutas frescas? Às vezes parece um sonho distante em meio ao concreto e as luzes de neon.

Estudos apontam que a urbanização traz uma série de desafios para nossa dieta. A abundância de fast food em detrimento dos produtos frescos é um problema crescente. Esse ambiente, impregnado pela cultura do fast food, se fortalece cada vez mais, mesmo com todos os avisos sobre os danos à saúde que esses hábitos alimentares podem causar.

Por que o nosso horário de trabalho aumentou

se o trabalho não mudou (possiveis hipóteses)?

Pense no seguinte: barulhos urbanos não apenas atrapalham nosso sono, mas também diminuem nossa capacidade criativa como no mencionado primeiro tópico. Em áreas como marketing e design (nossas áreas de atuação), onde a criatividade é essencial, dormir mal significa menos criatividade e, consequentemente, mais tempo para concluir tarefas que antes fazíamos com agilidade. Se não conseguimos dormir bem devido ao barulho, nossa mente não descansa e a criatividade despenca, tornando cada tarefa um desafio maior do que deveria ser.

Além disso, em Brasília, parecia que a pressa era nossa companheira constante. A cidade tem um ritmo próprio, que acaba nos influenciando de maneiras sutis, mas poderosas. O ambiente urbano, com seu fluxo incessante de carros, pessoas e demandas, pode aumentar a nossa sensação de urgência e pressão. Essa ansiedade, mesmo que inconsciente, faz com que tudo pareça mais urgente, aumentando nossa carga mental.

Então, mesmo sem uma mudança concreta no trabalho em si, a cidade nos envolvia em sua pressa e pressão, estendendo nossos dias de trabalho e nos deixando mais exaustos, menos produtivos e criativos.

Por que paramos de fazer exercicios (possiveis hipóteses)?

A falta de exercício foi resultado direto de um ciclo vicioso que se estabeleceu em Brasília. Imagine só: noites mal dormidas, onde o barulho da cidade nos impedia de descansar plenamente, combinadas com uma alimentação pobre e repleta de fast food, que não fornecia a energia e os nutrientes necessários para manter um estilo de vida ativo. E para piorar, as longas horas de trabalho. O estresse e a pressão constantes nos faziam sentir que tudo era urgente, prolongando nossas jornadas de trabalho e deixando pouco ou nenhum tempo para a prática de atividades físicas.

Esse ambiente urbano não só afetou nossa saúde mental, aumentando a ansiedade e a sensação de sobrecarga, mas também teve um impacto significativo em nossa saúde física. Sem o exercício regular, nosso corpo começou a sentir os efeitos negativos: aumento de peso, perda de energia e um declínio geral no bem-estar.

Portanto, isso tudo foi uma consequência natural desse acúmulo de noites mal dormidas, má alimentação e muitas horas de trabalho.

Por que tivemos crises de ansiedade (possíveis hipóteses)?

Ah, depois disso, não preciso nem dizer, né? Kkk. A combinação de noites mal dormidas, má alimentação, longas horas de trabalho e a falta de exercício criou o cenário perfeito para as crises de ansiedade. O barulho constante de Brasília nos impedia de descansar adequadamente, o que já deixava nosso humor fragilizado logo pela manhã. Comendo fast food e comidas prontas, nosso corpo não recebia os nutrientes necessários para manter a energia e a estabilidade emocional, agravando ainda mais a situação.

Mesmo sem um aumento real na quantidade de trabalho, a sensação de urgência e as distrações constantes nos faziam trabalhar muito mais. Isso, combinado com a falta de exercício, impedia que liberássemos o estresse acumulado, uma prática essencial para a saúde mental. Além disso, a atmosfera da cidade, com seu ritmo frenético e estímulos incessantes, aumentava ainda mais a pressão sobre nós, fazendo com que cada tarefa parecesse uma corrida contra o tempo.

Tudo isso junto formou um ciclo vicioso de estresse e ansiedade. Cada fator alimentava o outro, tornando a gestão da ansiedade um desafio constante.

A beleza da singularidade

Talvez você se pergunte como a vida na cidade afeta algumas pessoas enquanto outras parecem imunes. Se a cidade te afeta como a nós, sinta-se compreendido. Se não, celebre sua resiliência.

Nossa singularidade define como reagimos ao ambiente ao nosso redor. Imagine tentar me encaixar num trabalho presencial no meio de uma cidade agitada, enfrentando trânsito caótico todos os dias. Eu provavelmente surtaria, tornando-me um verdadeiro colapso ambulante. No entanto, há pessoas que se adaptam bem a esse ritmo, apreciando a segurança de um trabalho fixo e a rotina previsível.

Elas lidam bem com a vida em grandes cidades, sem problemas com sono, alimentação ou exercício, integrando tudo isso harmoniosamente e vivendo felizes. Mas, se você colocar essas mesmas pessoas em um ambiente rural repleto de insetos, por exemplo, isso poderia ser um verdadeiro desastre para elas, talvez até causando estresse significativo. É essa diversidade de reações que nos faz únicos e ilustra por que não podemos esperar que todos prosperem nas mesmas condições.

Espero que este texto te ajude a apreciar um pouco mais a singularidade de cada pessoa. Ao entender como nos sentimos, você pode também olhar para si mesmo e reconhecer que seu modo de pensar e sentir não é o único. Existem muitas outras perspectivas, igualmente válidas, essa é a beleza da singularidade.

 

A vaca olha como quem diz: ‘Fugindo da capital, hein? Bem-vindos ao meu pasto

O observador silencioso da nossa nova rotina: está sempre de olho na gente!

No final das contas, percebemos que a cidade realmente não nos fazia bem. Como resposta a isso, nós  fugimos!

Pegamos tudo o que tínhamos, não muita coisa, já que somos nômades, e colocamos no carro, fugindo para a Chapada dos Veadeiros. Em uma chácara rodeada de árvores, pasto e vacas, encontramos um refúgio, com a vantagem de um bom wi-fi para trabalhar.

Em apenas quatro dias, fizemos 16 refeições, incluindo café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Acordamos todos os dias às 5h da manhã e vamos dormir às 21h. O trabalho, que antes levava de 12 a 14 horas para ser concluído, agora terminamos em 6, no máximo 8 horas.

Fazemos yoga todos os dias e já encaramos até uma trilha. A ansiedade simplesmente evaporou. Para não dizer que não senti nada, no primeiro dia, ainda atordoada pela mudança, fiquei bastante angustiada. Agora, apenas a ansiedade normal e saudável do dia a dia, nada que tire meu ar ou me faça entrar em crise.

Felipe está tirando fotos e gravando qualquer sinal de vida que vê pela frente: pássaros, vacas, rãs, insetos, e até o Freud, nosso cachorrinho. Acho que ele está fotografando a vida como uma forma de gratidão por voltar a viver. Afinal de contas, estávamos com saudade dela, da vida.

Partimos Fugimos, e antes de partir fugir, era como se nunca tivéssemos existido.

E você, já sentiu que precisava fugir para redescobrir o equilíbrio em sua vida? Compartilhe conosco a sua história! Onde você encontrou seu refúgio, ou o que mudou em sua rotina que trouxe um novo sopro de vida? Estamos ansiosos para ouvir suas experiências e aprender com elas.

Olá, meu nome é Dulce

Formada em marketing, uma eterna apaixonada por escrita e aventura, atualmente faço da estrada a minha casa.  

Dulce Lara R. Campos

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